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Foto do escritorPIBID HISTORIA UDESC

ANDANDO PELA CIDADE TAMBÉM SE APRENDE!

Matheus Albuquerque Flores, EBM Almirante Carvalhal


Figura 1 - Samba na Escadaria do Rosário - Fonte: Foto de Marco Favero.


No mês de setembro foi realizada, com a turma 92 (nono ano vespertino) da E.B. Almirante Carvalhal, juntamente com o auxílio e acompanhamento do professor Marcos Francisco da Silva, uma saída para o centro de Florianópolis, organizada por mim e pela bolsista Bruna Antunes. A oficina em questão tinha em vista apontar as transformações causadas em razão da urbanização da cidade ao longo do século XX e suas implicações para as populações que ali habitavam na época. Para isso, antes da saída propriamente dita, realizamos, em sala de aula, uma atividade com os alunos. Elegemos algumas imagens dos lugares por onde iríamos passar durante a saída, separamos a sala em pequenos grupos e dividimos as imagens de modo aleatório. O objetivo dessa atividade era que eles pudessem reconhecer (ou tentassem reconhecer) os locais, percebendo como, ao longo do tempo, haviam sofrido uma grande transformação.

Na semana seguinte, realizamos a saída, contando ainda com a presença de dois colegas do Programa de Iniciação à Docência (Pibid) que atuam na escola, Beatriz e Felipe. Começamos pelo Mercado Público, onde passamos pela parte em que ficam os restaurantes, para que as/os alunas/os pudessem perceber o local e as pessoas que paravam para desfrutar de algo ali. Depois, já na parte de fora do mercado, comentamos com eles a respeito do processo de gentrificação[1] e como, em razão de Florianópolis se haver tornado uma cidade turística, o mercado passou a ser um local acessível apenas a uma certa camada da população em razão dos preços elevados tanto para comer como para beber.

Depois do mercado, seguimos para o Largo da Alfândega, onde o Felipe abordou a questão do monumento dos bilros das rendeiras. Primeiro, perguntou se alguém sabia o que significava o monumento em questão, pergunta para a qual nenhum dos alunos ou alunas achou uma resposta. Explicou, então, um pouco sobre as rendeiras e como essa prática se vem perdendo, à medida que as filhas (ou filhos) não têm mais interesse em continuar a manter viva a tradição. A questão foi relacionada com a Avenida das Rendeiras, na Lagoa da Conceição, que, apesar do nome, conta com muito poucas delas.

Dando sequência ao roteiro, do Largo da Alfândega seguimos até o Memorial Miramar, onde foi conversado sobre aterro da Baía Sul. O Miramar, enquanto espaço de sociabilidade da elite que habitava o centro, começou seu declínio quando passou a ser frequentado pela camada mais popular da cidade de Florianópolis, mostrando, então, a face classista/racista envolvida nos processos de poder em relação ao que deve ser mantido e o que deve ser esquecido. Também se comentou a respeito do Memorial Miramar e como ele, da mesma forma que o monumento da renda de bilro, é vazio, pois, muitas vezes, já não remete a uma memória/lembrança de quem o vê. No local também foi realizada uma experiência sensorial, tentando transmitir o que era viver na época, com a água do mar salpicando no rosto e o vento movimentando os cabelos. No caso, as/os alunas/os foram vendados e se utilizou um borrifador com água do mar para que eles pudessem fazer esse deslocamento no tempo e no espaço.

Do Miramar, seguimos até a Praça XV de Novembro. A questão que pretendemos abordar na Praça XV foi a da ocupação do espaço. Na sala de aula, quando fizemos a oficina com as imagens, foi levantada a questão do porquê de a praça ter sido cercada. Na saída, foi comentado o motivo: a praça já não era utilizada por todos os habitantes da ilha. Aquelas cercas não apenas delimitavam, como, de alguma forma, definiam quem a poderia e quem não a poderia ocupar; quem era bem-vindo e quem não era. Falamos das pessoas que atualmente ocupam o lugar da praça e das recentes tentativas de a cercar novamente: uma, de 2010, e a mais recente, agora em 2018, com a prefeitura “justificando-se”, ao afirmar que a razão era simplesmente proteger a praça pela proximidade do carnaval.

Caminhamos então até a catedral, mas não ficamos muito tempo lá, porque no mesmo dia o local estava sendo preparado para uma concentração, com vistas a receber o ex-candidato à presidência do Brasil, Fernando Haddad. Essa questão, posteriormente, voltaria a ser abordada em sala de aula, para comentar o uso das escadarias da catedral como espaço de expressão popular e também de ocupação. Da catedral, seguimos até o Teatro Álvaro de Carvalho, dando continuidade ao tema da ocupação de espaços urbanos. Para incentivar as/os alunas/os a ocupar o teatro, informamos que que ali se ofereciam espetáculos, se faziam exposições gratuitas, motivos que os poderiam estimular a frequentar o espaço. O professor Marcão ainda levantou a questão de antigamente o centro ter sido o local em que foi decretado e assinado o documento que mudava o nome da ilha de Nossa Senhora de Desterro para Florianópolis.

Do teatro Álvaro de Carvalho, caminhamos até a escadaria da Nossa Senhora do Rosário. Em um primeiro momento, falamos um pouco da verticalização da cidade, comentando como os prédios que ocupam o local começaram a moldar a forma como nós prestamos ou deixamos de prestar atenção às coisas ao nosso redor. Na sequência, foi abordada a questão da igreja, assim como as de seu histórico e significado, sobre ser construída por pretos escravizados, livres e libertos, que habitavam a ilha da Nossa Senhora do Desterro, e ser aquele um local em que se podiam fazer celebrações, lugar apropriado para uma lição de resistência e resiliência. Naquele momento e local, uma aluna se sentiu confortável para dizer que fazia parte de religião de matriz afro.

Finalizando nossa caminhada, fomos até o Museu Cruz e Souza. Dentre tantas questões a abordar, puxamos pelo nome estampdo no museu. Falamos, então, um pouco sobre a trajetória do Cruz e Souza e sobre o peso que seu nome tinha com o Simbolismo brasileiro. Também falamos de Antonieta de Barros e de sua importância, tanto para o estado de Santa Catarina quanto para o movimento negro: primeira mulher negra a ser deputada, em uma época em que os cargos políticos eram ocupados majoritariamente por homens brancos.

A caminhada pelo centro de Florianópolis parece ter causado bastante impacto nas/nos alunas/os, uma vez que muitos deles nunca tinham arranjado ou reservado um tempo para andar pelo centro observando vários aspectos que levantamos durante o passeio. A questão da gentrificação e da ocupação do espaço foi algo que marcou bastante todos eles, uma vez que, durante o relatório que depois fizemos juntos, foi um dos pontos mais levantados. O centro de Florianópolis é sempre um bom local para se fazer uma saída de estudo, uma vez que respira história e proporciona boas atividades.

[1] Gentrificar: cf. Dicionario InFormal - Revitalizar um bairro ou rua decadente de uma cidade; em Caldas Aulete: Fazer retornar à condição de nobre, enobrecer.

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