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  • Foto do escritorPIBID HISTORIA UDESC

VOLTANDO AO PASSADO: AS MÚLTIPLAS NARRATIVAS HISTÓRICAS DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA


Desde o início do projeto PIBID 2020-2021 sabíamos que enfrentaríamos as dificuldades do “Ensino Remoto”, causado pela pandemia da COVID-19. Essa trajetória foi de novas descobertas para nós, acadêmicos de História que até então nunca haviam pisado na sala de aula enquanto docentes. No meu caso, em particular, tive a oportunidade de participar de algumas aulas online, as ditas “síncronas”, dentre as quais uma se destaca por ter sido o resultado de uma produção própria, isto é, o material didático (jogo) produzido a partir das orientações realizadas pelas professoras nos nossos grupos de estudo semanais.

Durante todo o primeiro semestre de 2021 pude acompanhar as aulas da professora Joseane Vidal, uma das supervisoras do estágio e responsável pela disciplina de História na Escola Básica Municipal Henrique Veras, e notei que os alunos eram bem participativos, dependendo da turma e abordagem da docente. Desenvolvi uma afetividade em especial pela turma do 9º ano do Ensino Fundamental, visto que os adolescentes procuravam sempre participar das aulas, da melhor maneira possível dentro do contexto com o qual vivemos, portanto, o material didático que eu desenvolvi tinha como objetivo trabalhar o conteúdo dessa turma, a fim de construir diálogos diferentes dos habituais. Tendo como inspiração o jogo “Conselhos ao Rei”, do professor-historiador Tiago Rattes - graduado pela UFJF e doutorando pela mesma instituição –, que se dedica à elaboração de materiais didáticos e paradidáticos para o Ensino Fundamental. Desta forma, criei um material semelhante na plataforma do Google Formulários cujo tema seria “Voltando ao Passado: vivenciando o Golpe da Proclamação da República Brasileira”.

O material tinha por objetivo principal fazer os alunos descobrirem os diversos “pensamentos republicanos" que haviam para o país, portanto, foi construído por meio de leituras aprofundadas de autores como José Murilo de Carvalho, Lilia Moritz Schwarcz e Jorge Ferreira Delgado, entre outros historiadores e historiadoras. Logo no início do material é apresentado um pequeno texto fazendo os alunos se imaginarem voltando ao passado e em seguida são oferecidas as opções dos personagens (“personas”) do jogo. A escolha dos alunos quanto à “persona” histórica iria construir a narrativa deles, isto é, se escolhessem, por exemplo, serem membros do exército, morando no Rio de Janeiro, sua visão de pensamento republicano seria positivista, uma vez que dentro dessa instituição os positivistas tinham muita força, ou então poderiam ser seguidores de Deodoro da Fonseca, que embora insatisfeito com a monarquia só quis participar do golpe após se sentir ameaçado.

Após o jogo ter sido corrigido e aprovado pelas professoras supervisoras, a professora Joseane sugeriu que eu construísse uma apresentação, em PowerPoint, para introduzir aos estudantes alguns conceitos importantes para a compreensão do jogo e da aula, como por exemplo: significado de República, significado de Monarquia, significado de Golpe e Revolução. Por mais que o jogo fosse voltado para a proclamação da República, a professora ministrante tinha planejado que o material fosse apresentado para eles no formato online, pelo portal educacional, para que os estudantes vissem o material como um complemento da explicação dada em sala de aula, como consequência decidimos dar segmento ao conteúdo ainda nos mesmos slides, isto é, a apresentação foi dividida em duas partes: a primeira contendo uma explicação do golpe republicano e outra já abordando a Revolução Federalista (1893-95), movimento contestatório do ideal republicano vigente nos primeiros anos da República e que esteve presente em território catarinense.

O colégio EBM Henrique Veras estava funcionando por meio do ensino híbrido, onde alguns estudantes frequentam as aulas presencial uma semana e na outra há aulas online para todos aqueles que desejam e possuem acesso ao meio virtual. A primeira semana após as férias de julho foram de maneira presencial e a docente, que estava na escola sem o apoio dos bolsistas, introduziu a eles alguns dos conceitos comentados acima, visto que muitos dos quais estavam naquele dia não participam das aulas online. Na terça-feira seguinte, dia 10 de agosto de 2021, foi o dia de aplicar o conteúdo para as duas turmas de nono ano, sendo cada uma em um período diferente. Esse período de ensino híbrido fez com que a organização escolar mudasse várias vezes até que estudantes e docentes se adaptassem. Atualmente as aulas da disciplina de História estão ocorrendo duas vezes na semana, sendo às terças, das 08hrs da manhã até 17hrs da tarde (respeitando os intervalos) e às sextas, das 08hrs até 10h30min e da 13hrs até 16h30min. Nota-se que esse esquema de organização é bem cansativo para nós docentes, sobretudo nas semanas em que os alunos estão online, uma vez que ficamos praticamente dois dias inteiros colados a tela do computador.

No horário das 10:30 da manhã, com a turma que chamamos de nono ano um, tivemos a presença de 7 estudantes apenas, durante todo o horário. Já no horário de 13:45 iniciamos a turma do nono ano dois, que possuía apenas 3 estudantes. A experiência de aplicação dos primeiros conceitos me permitiu introduzir o jogo aos alunos e o diálogo com os mesmos foi muito interessante, embora as discussões com os estudantes do matutino tenham se estendido mais pelo fato de estarem em maior quantidade, foi com os alunos do vespertino que parecia que o conteúdo havia se aprofundado de melhor forma, uma vez que estes faziam mais questionamentos sobre os conceitos e respondiam com dúvidas que geravam maior debate, como por exemplo “Porque chamamos de golpe”, e não apenas respostas curtas como “sim” ou “não”, tão comum nessa fase online.

Na semana seguinte foi compartilhado com os estudantes, por meio do portal educacional, o jogo produzido durante o primeiro semestre. O mesmo teve 17 respostas, sem diferenciar a quantidade dos alunos que era da turma 1 ou 2, e houve um empate nas “personas” históricas mais escolhidas sendo elas: “Ser filho (a/e) de um professor, morando em Desterro” e “Ser um soldado (a/e) do Exército, morando na capital do país, Rio de Janeiro”. Acredito que a grande quantidade de respostas na primeira opção (Desterro) pode ser por puro gosto pessoal dos estudantes, mas também é possível acreditar que muitos destes possam ter se baseado em atividades anteriores feitas pela professora Joseane, em que eles tinham de criar um personagem que morava em Desterro no século XIX, tanto que, em algumas respostas, os alunos colocam o nome fictício pertencente a estes personagens.

Ao fim da semana em que foi disponibilizado o material aos estudantes a professora Joseane me compartilhou um e-mail que ela recebeu de um aluno com uma dúvida e um comentário referente ao jogo, que dizia “parabéns para quem fez o formulário ficou muito bom”. Receber essa primeira, e única, resposta no que diz respeito à produção do material me deixou muito empolgado para aplicar a segunda parte do Power Point, pois a mensagem sanou diversas dúvidas que eu tinha em minha cabeça como “será que o material ficou muito extenso? ”, “será que eles vão gostar do formato?” e, uma das dúvidas que mais me incomodava era: “será que eles vão aprender algo/entender a mensagem presente neste jogo?”.

Embora a resposta dele não respondesse nenhuma das perguntas diretamente, ela já foi uma resposta inicial que todo professor almeja, ainda mais nesse período remoto em que os estudantes não participam tão ativamente como antes. O restante da apresentação feita na semana seguinte já não envolvia mais o material produzido, mas no que diz respeito aos comentários e avaliações do jogo acredito que o objetivo tenha sido alcançado e que o material servirá, senão de aprendizado, como uma lembrança de uma forma diferente de se aprender a história nos tempos de pandemia.


Por Gustavo M. Silveira

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