Este relato aborda as experiências que vivenciamos como bolsistas do Programa de Iniciação à Docência (PIBID) ao longo do primeiro semestre de 2023, bem como descreve uma aula ministrada e seus resultados. Este relato está dividido em quatro partes. Na primeiro parte é apresentada a estrutura da escola e as turmas com quem trabalhamos. Na segunda parte, o material que foi utilizado; na terceira parte é descrita a experiência de aula e, por fim, são apresentados os resultados da experiência.
Ao longo do primeiro semestre do projeto PIBID, em 2023, atuamos como bolsistas na escola EEB Jurema Cavalazzi. A escola é pequena e atende turmas desde o 1º ano do Ensino Fundamental I, até o 3º ano do Ensino Médio. O prédio conta com aproximadamente 12 salas de aula, um laboratório de informática, salas da secretaria e direção de ensino, sala dos professores, refeitório e pátio. Todo o prédio é disposto numa construção horizontal, contendo apenas dois pavimentos. Nas paredes internas estão distribuídas atividades desenvolvidas pelos alunos como: cartazes, cartas, atividades de conscientização, etc. O ambiente da escola é muito acolhedor. A escola fica localizada no bairro José Mendes, na cidade de Florianópolis e atende à comunidade da região. A comunidade escolar é composta por alunos de uma área periférica, muitos de origem humilde, sendo, muitas vezes, os primeiros da família a completar o ensino básico.
As turmas que acompanhamos durante todo o semestre foram os 6º, 7º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental II - anos finais, e o 1º ano do Ensino Médio. As propostas de aula, no entanto, foram executadas apenas em uma das turmas: 1º ano do EM. A turma com quem trabalhamos é pequena, contendo uma média de 6 a 9 alunos. O 1º ano EM possui duas aulas de História seguidas - conhecido também por “aula faixa” - às quintas-feiras. São alunos bastante quietos e pouco participativos, com exceção de dois estudantes que se sobressaem na turma: uma menina e um menino. A maioria deles faz uso constante do celular durante as aulas, o que reflete um déficit de aprendizagem e gera uma vazão escolar constante.
Para o preparo da aula, escolhemos como tema a “análise de fontes históricas”, seguindo o exemplo da atividade que realizamos previamente sob a orientação da coordenadora do PIBID. Propusemos trabalhar com duas fontes históricas: um trecho da carta do teólogo-
humanista espanhol Juan Ginés de Sepúlveda (FIGURA 1), que data o século XVI; e a pintura de Dionísio Baixeras: Anacaona, the Golden Flower (FIGURA 2); que data o ano de 1882.
FIGURA 1 - Carta de Juan Ginés de Sepúlveda
FONTE: SEPÚLVEDA, Juan Ginés de. Tratado sobre las justas causas de la guerra contra los indios. México: Fondo de Cultura Económica, 1941.
FIGURA 2 - Pintura de Dionísio Baixeras
FONTE: Dionisio Baixeras, Anacaona, the Golden Flower, 1882. Disponível em: https://www.mediastorehouse.co.uk/fine-art-finder/artists/dionisio-baixeras-verdaguer/anacaona-golden-flower-23184476.html. Acesso em 20/07/2023.
A proposta, a partir da adaptação dos dois materiais, foi de promover uma análise comparativa entre dois períodos históricos distintos, possibilitando o diálogo entre as fontes que
narram duas perspectivas sobre um mesmo acontecimento: a colonização espanhola nas Américas. Nosso objetivo era de que os alunos pudessem construir um olhar crítico diante das fontes, aprendendo a analisar diferentes tipos de fontes históricas - nesse caso, uma fonte escrita, a carta/manuscrito; e uma fonte imagética, uma pintura. Para apresentar as fontes aos alunos elaboramos uma atividade impressa contendo três questões discursivas e uma questão objetiva. A folha de atividades foi entregue para todos, de maneira que pudessem responder em sala de aula.
A aula iniciou com a introdução do professor Misael, professor efetivo de História da escola. Ele explicou para a turma que iríamos propor uma atividade para eles como parte do PIBID. Logo que a palavra foi passada para nós, explicamos brevemente do que se tratava o tema da aula e começamos com uma provocação sobre o que os alunos entendiam por fontes históricas. Enquanto os alunos, timidamente, começavam a responder, montamos nosso quadro de aula (FIGURA 3). As definições e conceitos foram escritos na lousa, e os alunos começaram a dar retorno da primeira pergunta. Seguimos com a dinâmica de perguntas e respostas, na tentativa de deixar a turma mais confortável com nossa presença e para entender quais seus conhecimentos prévios sobre o tema. Buscamos construir a aula em conjunto, não partindo apenas da nossa explicação expositiva, para que fosse um momento dinâmico e os alunos pudessem se expressar junto conosco.
FIGURA 3 - Quadro de sala
FONTE: Acervo próprio.
À medida em que a aula foi seguindo, a turma se mostrou menos relutante e mais alunos começaram a participar. Introduzimos a explicação sobre os “tipos de fontes históricas”, demonstrando que elas podem se encaixar em diferentes categorias. Debatemos um pouco sobre a diferença na análise entre as fontes e as diferenças interpretativas e logo partimos para leitura e explicação da atividade. O diálogo com os alunos e a explicação do
conteúdo fluíram em conjunto conforme a aula se desenvolvia.
Questionamos se os alunos preferiam ler em conjunto ou sozinhos e, da mesma forma, se gostariam de tentar responder as perguntas sozinhos ou coletivamente. Eles nos pediram para fazer a leitura individualmente e depois responder as questões em conjunto. Demos alguns minutos para que pudessem realizar a leitura. Nesse momento, relaxamos um pouco. Depois que os alunos leram os textos iniciamos a atividade. Alternamos as questões entre nós para responder junto à turma. Conforme realizamos as questões, os alunos respondiam conosco, e, quando necessário, pediam ajuda para explicar algumas dúvidas pontuais.
Conseguimos realizar toda a atividade, seguindo nosso planejamento de aula, dentro dos dois horários de aula. Aos poucos, à medida que a aula foi se desenvolvendo, percebemos que a turma foi se sentindo mais confortável e segura de expressar suas opiniões e dúvidas. Para além do conteúdo proposto, foi possível mediar um pequeno debate que se estabeleceu entre os alunos diante do tema da aula, mobilizamos, portanto, uma análise entre os períodos analisados nas fontes e nossa contemporaneidade. Nesse sentido, foi possível debater temas importantes como a sexualização de corpos femininos e a análise de diferentes discursos sobre um mesmo objeto de estudo. Na sequência, com o auxílio do professor Misael, conseguimos introduzir o conceito de “etnocentrismo” e chamamos atenção da turma para a não existência de verdade absoluta diante das fontes. Os alunos não conheciam o termo previamente, e se mostraram muito interessados em como as narrativas históricas são construídas de acordo com o período. Ao final da aula consideramos ter conseguido transmitir o conteúdo principal. Foi um momento de muito nervosismo para nós, por estar à frente da turma, mas junto com os alunos foi possível construir uma aula dinâmica e muito fluida que possibilitou a explicação dos conceitos históricos trabalhados e deu abertura até para um pequeno debate.
Por Hellena Júlia Osório e Stella Mazzuchelli Mendes
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