por Ana Carolina Brasil e Christian G. V. da Fonseca
Quitandeiras em rua do Rio de Janeiro, 1875 (Marc Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles).
Durante os dias 10 e 11 de setembro de 2015, ministramos uma oficina sobre escravidão no Brasil durante o século XIX, temática proposta pelo professor César Jungblut da Escola Básica Municipal Henrique Veras, para que aplicássemos na turma do oitavo ano do ensino fundamental. Tendo em vista que os alunos estavam trabalhando com o professor sobre o Brasil império (1808-1889), a temática sobre a escravidão nesse período se tornou um grande desafio para nós, por se tratar de um tema extremamente importante, com debates contemporâneos e com repercussão ainda fortemente presente nos dias de hoje, referentes a racismo, etnocentrismo, entre outros. Esses fatores, somados às preocupações de não reforçar estereótipos e de retratar o tema de uma forma didática, essa oficina tornou-se um grande desafio.
A oficina foi desenvolvida no decorrer de três aulas. No primeiro dia, uma aula foi aplicada, e nesse espaço aproveitou-se para expormos o conteúdo, falando de modo geral sobre o cenário escravocrata no Brasil no século XIX, trabalhando com o conceito e as justificativas e permanências da escravidão, apoiando-se num mapa que representa o tráfico atlântico entre Brasil e a região da costa oeste do continente africano. No segundo dia, tivemos a oportunidade de aplicar duas aulas. Na primeira continuamos a trazer o cenário da escravidão no século XIX, principalmente dentro do Império. Distinguimos a questão da escravidão rural e urbana utilizando para fotografias de época.
Também abordamos as questões de dominação e as concepções de liberdade usando para isto trechos da Constituição brasileira de 1824. Além disso, abordamos também os castigos e a repressões aplicadas contra os escravos , bem com suas formas de resistências, fugindo ao máximo de uma visão estereotipada, sobretudo a que aborda os escravos como pacíficos em relação aos castigos e imposições dos seus senhores. E por fim, trabalhamos com as quatro leis que permearam o processo de abolição, Lei Eusébio de Queiroz (1850), Lei do Ventre Livre (1871), Lei dos Sexagenários (1885) e a Lei Áurea (1888).
Na sequência foi aplicada uma atividade, sendo essa de análises de documentos/fontes históricas do período. Os alunos foram reunidos em duplas que receberam um documento diferente: trechos das leis Eusébio de Queiroz e do Ventre Livre, a Lei Áurea, anúncio de um jornal de época sobre a fuga de um escravizado, uma carta de alforria, um tratado de negociação que o escravizado fez para seu senhor e duas imagens para análise (Loja de sapateiro de Debret e Navio Negreiro de Rugendas. Cada dupla teria que responder um questionário especifico referente ao seu documento. Como a atividade foi feita de forma relativamente rápida, utilizamos os 15 minutos finais para socialização das questões propostas pela atividade e debatemos acerca do aprendizado durante as aulas aplicadas.
Durante a exposição do conteúdo, não tivemos muita dificuldade em manter os alunos calmos, salvo poucas exceções. Os estudantes sentaram-se em forma de círculo durante os dias de aulas para uma melhor socialização, controle e atenção dos alunos. Acreditamos que o mais difícil foi cativar a atenção de todos, ao menos para participar, porém alguns deles, majoritariamente as meninas, se mostraram bastante antenadas e questionadoras. Em relação às atividades, os alunos conseguiram cumprir com o objetivo, relacionando bem o que foi exposto com as perguntas das atividades. Acreditamos que houve uma maior sensibilidade acerca do tema a partir da aula que ministramos.
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