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Foto do escritorPIBID HISTORIA UDESC

ESCRAVIDÃO: TRABALHO E COTIDIANO NO BRASIL COLONIAL

Atualizado: 14 de mai. de 2019

por Amanda Nicoleit e Tatiana Melo, EBM Henrique Veras



             Após o acompanhamento das turmas de 6º ao 8º ano do ensino fundamental na Escola de Educação Básica Municipal Henrique Veras, aplicamos uma oficina para 7º ano matutino com o tema “Escravidão: trabalho e cotidiano escravo no Brasil colonial”. Este tema foi escolhido por ser uma demanda de currículo e nos ser extremamente caro, pois foi algo marcante durante uma das disciplinas (História do Brasil I) da nossa graduação, em que visões entendidas até então por nós como verdades absolutas foram descontruídas, dando lugar a um entendimento muito mais amplo e complexo da vida dos escravos e dos meandros da sociedade no qual estavam inseridos.

            Tendo como partida nossa própria experiência na disciplina de História do Brasil I, pensamos na oficina como forma de descontruir visões já internalizadas. Para isso separamos a oficina em três momentos. No primeiro, a partir da escrita de um tratado, os alunos escreveriam o que eles entendiam que os escravos crioulos (nascidos no Brasil) pediriam de mudanças ao seu senhor. Para a atividade foram utilizados dois recortes de documentos  (trecho do livro Cultura e Opulência no Brasil por suas drogas e minas de autoria de André João Antonil e um recorte da Carta Praefecturae de Paraiba et Rio Grande de1647 de autoria de Georg Marcgraf e Joan Blaeu, com ilustrações  de Frans  Post). O segundo momento foi reservado para leitura e analise do Tratado proposto a Manoel da Silva Ferreira pelos escravos crioulos levantados (1789). A partir da analise deste documento foi discutido os conceitos de: castigo ( entendendo como algo visto como natural para a sociedade da época), negociação ( pensando o escravo como agente histórico),  conflito ( formas de resistência escrava) e heterogeneidade ( diferenças entre os escravos, Crioulos x Africanos).

            Na primeira aula, pedimos para que os alunos/as se separassem em duplas ou trios, algo que prontamente foi atendido. Já organizados da forma que pedíamos apresentamos a atividade para o dia, que consistia na analise de dois recortes de fontes e a produção de um pequeno texto com as reinvindicações de escravos Crioulos no século XVII. O material para esta atividade foi entregue em envelopes endereçados a um senhor de escravo, o que despertou interesse pelo conteúdo. Após a entrega de todos os materiais foi feita a análise das fontes pelos alunos. Com o término da leitura dos materiais pedimos então que eles/as escrevessem o que achavam que os escravos pediriam aos senhores a partir dos documentos lidos e das ideias que eles tinham sobre a escravidão no Brasil. Neste momento que identificamos maior dificuldade, pois demos a eles/as uma liberdade que não é comum e, por não ter uma resposta certa ou errada, alguns se sentiram inseguros para fazer a atividade, enquanto outros se utilizaram desta “liberdade” para fugir do foco proposto e utilizar a atividade como brincadeira. Nos últimos instantes da aula entregamos para cada aluno/a um envelope com um tratado escrito por escravos no século XVII. Ao falar que este tratado realmente havia existido alguns demonstraram interesse. Após a entrega de todos os envelopes avisamos que eles seriam usados na próxima aula e nos despedimos dos alunos.

             Com as atividades da primeira aula em mãos, lemos e tabulamos as informações encontradas para utilizá-las como base para a próxima aula. Nos surpreendemos positivamente com as atividades, algumas coisas encontradas no senso comum que esperávamos que fossem aparecer em alguns casos pareciam estar em vias de ser superada. Preparamos a aula seguinte pensando na análise do documento entregue e na utilização das ideias trazidas pelos próprios alunos/as no primeiro encontro.

            No segundo dia pedimos para que eles/as se reunissem nas mesmas equipes da aula anterior, o que novamente foi atendido rapidamente, e pegassem os envelopes que havíamos entregues na aula anterior. Para começar a atividade relembramos brevemente as duas fontes analisadas e o objetivo da atividade. Para analise do documento selecionamos alguns trechos levando em consideração as informações obtidas na atividade anterior, pedimos para que lessem para a turma os trechos e através de perguntas buscamos analisar a fonte. De início se mostraram mais empolgados, mas com o decorrer do tempo, como era de se esperar, começaram a dispersar, ao perceber esta atitude tentamos traçar paralelos com o cotidiano, mas não foi algo que teve grande sucesso. Acreditamos que corroborou para a perda de interessante a leitura difícil do documento que impossibilitava a interpretação de imediato devido a não compreensão de alguns termos.

            O terceiro e último dia foi para nós o mais complicado, pois envolvia a atividade avaliativa e nossa preocupação em nos fazer entender era grande. Depois do momento de organização retomamos os conceitos principais abordados na aula anterior, percebemos que a repetição do conteúdo, mesmo que necessária para a lembrança, não desperta interesse nos alunos.  No momento seguinte pedimos para que completassem a atividade feita na primeira aula com o que haviam aprendido, para que tanto nós quanto elas e eles pudessem perceber qual foi o aprendizado, pedimos para que utilizassem outra cor de caneta. Mesmo mais dispersos que nas aulas anteriores todas e todos concluíram a atividade e entregaram no tempo previsto.

            Ao analisar o pequeno texto escrito constatamos que nem todos os nossos objetivos foram alcançados, pois um dos conceitos, o que acreditamos ser o mais importante para a desconstrução da ideia dos escravos e escravas como “coisas”, a heterogeneidade, não foi abordada por nenhuma das equipes. No entanto foi perceptível a mudança na concepção de escravo a partir de elementos como a religião, os laços familiares e a política de castigos. Os alunos/as, em sua maioria, ao iniciar a narrativa tratavam de questões relacionadas a necessidades básicas, como comida e roupas, e finalizavam com questões referentes a religião e as festas. Foi perceptível a mudança de foco nas produções textuais, onde a primeira se referia quase que em sua totalidade aos castigos, e a segunda as necessidades cotidianas, nos mostrando, mesmo que sutilmente, uma humanização dos sujeitos escravizados.

                 Aplicamos a oficina em três aulas, de 45 minutos cada, algo que de início achamos complicado devido ao tempo curto que teríamos com a turma em cada encontro. No entanto durante o desenvolvimento da oficina isto se tornou algo muito útil, pois como já mencionado a oficina separava-se em três momentos bem distintos que com esta conformação de horários possibilitou um melhor aproveitamento das atividades.

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