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Foto do escritorPIBID HISTORIA UDESC

PERCEBENDO AS MARCAS DO TEMPO NA CIDADE DE FLORIANÓPOLIS

Patrícia Amélia Martins Palharin

EBM Osmar Cunha


Andando pela Avenida Hercílio Luz, Antiga Avenida do Saneamento.


A partir de uma aula ministrada pelo professor supervisor Carlos Rogério Müller aos alunos e alunas de duas turmas do 8º ano do turno vespertino sobre a vinda da corte portuguesa ao Brasil, na qual foi exibido o documentário “1808 - A Família Real no Brasil”, eu e Lucas do Amaral, sugerimos uma saída de campo para o centro de Florianópolis, para observar as transformações ocorridas na cidade entre o período colonial, o imperial e o republicano, destacando, sobretudo, a participação das populações economicamente menos favorecidas, formadas, em grande parte, por pessoas de origem africana.

Nossa intenção era trazer ao conhecimento dos alunos e alunas alguns aspectos da vida cotidiana da cidade, que frequentemente escapam aos assuntos abordados pelos livros didáticos e, assim, contribuir para que pudessem perceber a existência na cidade de variadas redes de sociabilidade, que agem sobre o ambiente em que estão inseridos, sofrendo as influências deste meio, mas, acima de tudo, exercendo influência sobre ele. Dessa forma, seria possível ampliar o conhecimento dos estudantes sobre essas populações e visualizar outras dimensões de suas vivências, indo muito além do processo de escravização, de modo a desmistificar a ideia de que essas populações atuavam de maneira inexpressiva na dinâmica social. A ideia inicial consistia em percorrer alguns pontos do centro da cidade que carregam vestígios de um passado remoto e discutir a função desses espaços no passado e na atualidade, tendo sempre, como questão central, a presença da população de origem africana no centro da cidade. Para tanto, preparamos o seguinte roteiro:

Data: 22 nov. 2018

Saída da escola: 13h30

Previsão de chegada ao centro (Largo da Alfândega): 14h10

1ª visita: parte externa Museu Cruz e Sousa

Objetivos: analisar o tipo e a data da construção do prédio; pessoas que frequentavam este espaço e quem as frequenta hoje em dia; refletir sobre o momento histórico de sua construção, fazendo um paralelo entre o que estava acontecendo no Brasil (mais especificamente na capital, Rio de Janeiro) e relacionar com o que estava acontecendo aqui, na ilha, na mesma época; falar sobre Cruz e Sousa: sua vida na cidade e o prestígio que alcançou fora dela.

OBS: Não conseguimos agendar uma visita à parte interna do museu, porque as reservas estavam esgotadas, devido à grande solicitação de escolas da cidade e de outras cidades do estado. Tínhamos a intenção de mostrar às duas turmas a parte interna do museu e problematizar os materiais lá expostos, principalmente o que não está exposto, como, por exemplo, objetos ou informações relacionados aos primeiros ocupantes da Ilha de Santa Catarina – o povo guarani.

2ª visita: Igreja do Rosário

Objetivos: conhecer a igreja e refletir sobre as vivências de populações de origem africana na ilha; indagar sobre a escolha daqueles santos para serem os padroeiros desta igreja (Nossa Senhora do Rosário e São Benedito) e falar brevemente sobre sincretismo religioso, que foi uma forma encontrada pelos africanos e seus descendentes de se adaptar a uma realidade diferente da sua, sem deixar de exercer seus rituais religiosos.

3ª visita: Avenida Hercílio Luz (antigo Canal da Bulha): refletir sobre o processo de deslocamento da população economicamente desfavorecida do centro da cidade para os morros próximos e relacionar esse processo com o que estava acontecendo na capital do Brasil (Rio de Janeiro) - processo de higienização.

4º visita: Mercado Público

Objetivos: destacar as pessoas que circulavam por esse espaço ontem e hoje; enfatizar que o local no início do século XX era muito frequentado por vendedores ambulantes, pescadores, quitandeiras e outras pessoas que viviam do trabalho gerado nas imediações do porto.

Previsão de retorno: 16h00.

Chegada na escola: 17h00.

Além do que estava previsto no roteiro, passamos em frente ao edifício que foi sede de clubes de remo, esporte muito apreciado pelas famílias ricas florianopolitanas, que se localiza em frente ao Terminal de Ônibus Cidade de Florianópolis, e ainda fizemos uma rápida parada junto ao monumento construído em homenagem ao Miramar, famoso local onde os moradores da cidade, visitantes, artistas e tantas outras personalidades se reuniam, fosse para conversar, torcer pelos times de remo que se enfrentavam em concorridos campeonatos ou para apreciar a comida e ou a bebida local, mas que foi derrubado, em meio a muitos protestos da população, para dar lugar ao aterro que viabilizaria a construção das pontes Colombo Salles e Pedro Ivo.

Os alunos e alunas tiveram uma ótima participação na atividade proposta. Não reclamaram da distância, percorrida debaixo de sol forte, e se esforçaram para escutar nossos comentários e os do professor. Entretanto, não calculamos que os ruídos próprios de um centro urbano (barulho dos carros, buzinas, vendedores ambulantes, carros de som, etc.) pudessem prejudicar tanto a comunicação, e isso nos deixou com uma sensação de que poderia ter sido melhor.

Para concluir esta atividade, pensamos em propor uma roda de conversa na escola, para aprofundar alguns pontos que apenas rapidamente comentamos durante a saída de campo, em decorrência das condições desfavoráveis de comunicação e para ouvir dos alunos e alunas suas opiniões sobre essa experiência. No entanto, como já estávamos nos últimos dias do ano letivo, no dia marcado para nossa última aula na escola, a turma estava terminando as tarefas pendentes no trimestre e, portanto, não nos sentimos à vontade para interromper o andamento da aula.

Mesmo que não tenha sido exatamente como imaginávamos, serviu como experiência, que certamente nos ajudará a preparar melhor as saídas de campo; para os alunos e alunas talvez tenha ficado a mensagem de que o centro da cidade é um espaço de convivência para todos e todas. Se não foi a melhor aula de história local da vida deles, é possível que ao menos tenha servido para que pudessem ver a cidade com outros olhos, olhos de questionamento e de inquietação, próprios dos historiadores e de cidadãos conscientes das transformações de seu tempo e que tudo o que está aí está sujeito a ou é passível de mudança.

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