Esther Grassi e Dhuna Schwenke Teixeira
EBM João Gonçalves Pinheiro
José Ricardo Rosa, “Tatão”, segurando um tijolo com a suástica nazista. Fonte: Folha de S. Paulo.
Na imagem acima, José Ricardo Rosa, 55, conhecido como “Tatão”, segura um tijolo com a suástica nazista. Após herdar a fazenda Cruzeiro do Sul, na cidade de Campina do Monte Alegre, ele encontrou, por acaso, tijolos com o sinal nazista usados na construção.
Utilizamos duas aulas, com a pausa do intervalo, no dia 8 de outubro de 2018, para ministrar uma atividade à turma do 9º ano do ensino fundamental. O objetivo foi trabalhar as influências do nazismo e do movimento integralista no Brasil durante o governo Vargas e a importância dos locais de memória, temáticas propostas pelo professor Aldonei Machado. Tendo em vista que os alunos estariam sendo introduzidos no assunto após encerrarem, em termos gerais, a questão da Segunda Guerra Mundial, foi solicitado que se abordasse o assunto para introduzir os assuntos que seriam tratados pelo professor nas aulas seguintes.
Para isto, utilizamos uma versão reduzida do documentário Menino 23 - Infâncias perdidas no Brasil, o curta Entre a Suástica e a palmatória, dirigido por Philippe Noguchi, a partir de reportagem de Alice Melo, publicada na Revista de História da Biblioteca Nacional, em janeiro de 2012. A partir de fontes como os tijolos utilizados para construir fazendas no interior de São Paulo, entre as quais se situam o episódio narrado e os relatos orais daqueles que vivenciaram as práticas racistas e eugênicas e a elas sobreviveram, pretendemos enfatizar/mostrar alguns exemplos de como o pensamento autoritário do nazismo se manifestou no Brasil.
O documentário teve uma duração de 22 minutos e utilizamos o auditório da escola, uma sala ampla que nos permitiu passar o curta de forma confortável e nos possibilitou fazer um círculo com os alunos. O objetivo de fazer uma quebra nas aulas expositivas foi alcançado, pois, ao final do filme, abrimos espaço para que questionamentos fossem feitos pelos discentes e, assim, uma aula dialogada se desenvolvesse.
A primeira aula de segunda-feira foi planejada pensando em dar uma leve introdução sobre o documentário e o assunto que ele aborda; em seguida, foi passado o vídeo. O professor Aldonei o interrompeu, em alguns momentos, para relacionar as falas com assuntos que eles já tinham trabalhado, o que foi muito pertinente. Ao final, abrimos para conversas, buscando envolver os educandos de forma efetiva.
Após o fim do curta, indicamos os temas que queríamos que fossem discutidos. Dhuna começou citando a importância da preservação da memória e dos resquícios físicos, fazendo uma interligação entre a recuperação de documentos que mostram a transferência dos meninos e a descoberta dos tijolos marcados pela suástica nazista, e entre tais fatos e a falta de reconhecimento da própria história brasileira e a não lembrança de que em nosso país houve sim um movimento nazista. Isto nos possibilitou falar sobre como até hoje persiste uma expressão nazista brasileira.
Outro ponto citado foi a questão da regularização do trabalho de menor aprendiz no mercado de trabalho na CLT de 1943, trabalhado posteriormente pelo professor. O objetivo foi mostrar como, apesar da importância da lei, ela não significou o fim da exploração do trabalho infantil e como isso se agrava no campo, levando em consideração que a fiscalização é ainda menor.
Sobre as ligações feitas com o documentário e o cenário atual, tivemos muita sorte em pegar a turma 91, pois ela é, em geral, muito participativa e ligada aos acontecimentos políticos nacionais e até globais. Entretanto, como em toda turma há alunos que não participam das aulas, por mais que tenhamos tentado chamá-los para a roda de debate, não mostraram interesse; todavia, alguns dos que fazem parte do grupo dos “desinteressados” realizaram algumas falas e participaram um pouco mais do debate.
A sala ficou bem agitada depois do intervalo, como se havia previsto, e por conta disso tomamos uns dez minutos da segunda aula para voltar a ministrar a atividade. Isso, porém, não foi um grande problema, já que, como falado anteriormente, a turma 91 apresentou grande interesse pelo tema. Quando falamos sobre como no Brasil, até hoje, ainda existe um movimento fascista e nazista, eles automaticamente se assimilaram com o contexto político atual, já que o primeiro turno das eleições presidenciais tinha ocorrido fazia pouco tempo. Foi também lembrado o caso da piscina de um professor de história com uma suástica desenhada em uma cidade no interior de Santa Catarina.
Nós não vimos necessidade de realizar qualquer outro trabalho além do debate, pois o professor Aldonei iria continuar com o assunto em suas aulas. Sentimos que nossos objetivos de interligar esse acontecimento com o presente e de realizar questionamentos com os estudantes do nono ano foram alcançados em plenitude.
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